A História que eu não sei contar

Nasceu no dia 29 de Janeiro de 1889. Morreu no dia 3 de Novembro de 1918. Viveu na Estrada de Benfica, em Lisboa, num palacete de donos abastados. Chamava-lhes padrinhos. Mas não foi aí que conheceu o mundo. Foi em Almargem do Bispo, perto de Sintra, de família que trabalhava e negociava em pedras – mármores e afins. Que eu saiba, e sei muito pouco, viveu sempre em Benfica. Lá namorou, de lá casou. Para partir para Moçambique. Na Beira ficar a morar. Não foram os padrinhos, mas os pais que discordaram do casamento e de o casal ter decidido ir viver para o desterro de África. Se alguma vez existiram laços familiares, eles quebraram-se nessa decisão. Em 1913, nasceu-lhe um filho, em 1917, uma filha. Grávida de sete meses, a pandemia da pneumónica, gripe espanhola também lhe chamaram, levou-lhe a vida.
De Almargem do Bispo, nunca ninguém procurou ninguém.
De Almargem do Bispo chegou à Beira uma campa toda feita de mármore cor-de-rosa, ostentando o nome da minha avó, que também é o meu. Dizem que a campa era bonita. Nunca quis vê-la. Ficara assim cumprida a única e última obrigação.
De Almargem do Bispo, nunca ninguém procurou ninguém.
De Almargem do Bispo chegou à Beira uma campa toda feita de mármore cor-de-rosa, ostentando o nome da minha avó, que também é o meu. Dizem que a campa era bonita. Nunca quis vê-la. Ficara assim cumprida a única e última obrigação.